Actualizado 05/12/2014 13:24

Brasil e o preocupante 'boom' de cesáreas

Embarazo, embarazada
FLIKR/FUFUE

RIO DE JANEIRO, 22 Nov. (Notimérica) -

A maioria das crianças brasileiras não chega ao mundo de maneira natural: 52% dos partos são por cesárea, uma taxa que chega aos 88% no caso do sistema privado de saúde e que, na maioria das vezes, não tem relação com a livre escolha das mulheres ou com medidas de segurança, e sim com a conveniência dos médicos e do próprio sistema de saúde, como mostram estudos recentes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o índice de partos por cesárea não super os 1. O Brasil supera amplamente essa porcentagem e, junto com a China e o Chile, é o país que mais realiza esse tipo de intervenção. As cesáreas no Brasil começaram a crescer nos anos 1970 e atualmente crescem a uma "média espantosa" de 2% ao ano, como revela a pesquisadora da Escola Nacional Pública da Fundação Oswaldo Crus (Fiocruz) do Rio de Janeiro, Maria do Carmo Leal, coordenadora do estudo 'Nascer no Brasil'.

Leal, uma das vozes mais críticas às cesáreas, garantiu em declarações a Notimérica que este 'boom' se explica, em grande medida, porque é muito cômodo para os médicos e para os hospitais: agendam os partos para que não haja surpresas em sua rotina diária. Isso implica em que muitas clínicas privadas não tenham vagas para as mães que querem um parto natural.

"Além disso, como em muitos países, as mulheres confiam nos seus médicos. Se eles dizem que a cesárea é muito segura e que não representa riscos para ela e seu bebê, a mulher acredita. Mas há um grande movimento de mulhers em todo Brasil lutando contra isso e pelo direito de ter o parto que elas querem", afirma Leal.

Segundo o estudo, cerca de 70% das mulheres brasileiras desejam ter um parto vaginal quando ficam grávidas, mas os médicos que acompanham sua gestação - principalmente no setor privado - as convencem do contrário. As cesáreas se generalizaram de tal maneira que muitos médicos jovens saem da faculdade muito mais preparados para fazer esse tipo de cirurgia que para assistir um parto natural, a princípio muito mais simples, diz a especialista.

OS RISCOS DA CIRURGIA

Leal também ressalta o "equívoco" que leva muitas mulheres a pensar que fazer um corte na barriga é um método mais seguro para o bebê. Vários estudos indicam que aumenta o risco de hemorragias e infecções nas mulheres e que, em gestações futuras, aumentam as possibilidades de morte fetal ou formação anormal da placenta. Precisamente, um dado "preocupante" do estudo é que 42% das mães adolescentes dão a luz por cesárea, o que, na opinião de Leal, hipoteca a vida reprodutiva que elas estão apenas começando.

Além disso, uma das consequências dos altos índices de cesáreas são os nascimentos prematuros. Cerca de 35% dos bebês nascem antes das 39 semanas de gestação recomendadas, o que faz com que eles necessitem de cuidados especiais e lhes afasta da mãe nos seus primeiros momentos de vida.

"O melhor parto para a mãe e o bebê é o parto natual, que estimula o encontro mãe-filho sem muitas interferências", explica Leal. No Brasil, apenas 5% das mães que participaram do estudo puderam viver um parto sem intervenções, contra 40% no Reino Unido. Mas Leal está convencida de que as mulheres estão se conscientizando e o Brasil já está no caminho para reverter a tendência, embora o processo será "mais longo do que o desejado".

Para fazer o informe 'Nascer no Brasil', a equipe de Leal entrevistou 23.984 mulheres de todo país em maternidades públicas, mistas e privadas de 266 hospitales em 191 municípios.